04 novembro, 2009

Alimentadores Artificiais Colectivos e Individuais: BRASIL

Depois da “passagem” do Minho para o Algarve, vamos até S. Paulo no Brasil. A descida das temperaturas e o mau tempo que se começa a fazer sentir na nossa região já nos faz sonhar com climas mais paradisíacos…

Há cerca de um mês atrás, na minha troca habitual de E.mail’s com o amigo Carlos Correa de Guarulhos – SP – Brasil, revelou-me a existência de umas estruturas peculiares para ministrar alimento artificial às abelhas.
O que mais me impressionou é que um desses alimentadores está concebido para conter alimento sólido para as abelhas (farinhas de milho, trigo, soja, pólen, etc.) …
Mas comecemos pelo início, um dos alimentadores colectivos é para xaropes líquidos, constituído por um bidão de plástico (tipo banheira) obtido a partir de um depósito de plástico cortado em dois.
O alimentador, colocado no chão perto do apiário, é fixo entre quatro pilares que suportam simultaneamente uma chapa ondulada, que serve de sombreiro, com dois blocos de cimento em cima para não ser arrastada pelo vento. O telhado de chapa ondulada serve principalmente para a evitar a entrada de água da chuva, não esqueçamos que se trata de um clima tropical, e o excesso de água iria diluir o xarope tornando-o menos atractivo ou até fermentá-lo.
Esse depósito é cheio com mato (além do xarope açucarado) para que as abelhas não se afoguem:

Em Portugal, e sobretudo nos últimos anos, cada vez são mais desaconselhados e menos usados os alimentadores colectivos, visto que o seu uso pode fomentar a pilhagem. Já são muito raros os que encontro no campo, desde a habitual lata ou panela, até ao canal feito com telhas que os apicultores enchem com xaropes à base de mel, açúcar e sumos de fruta.
Voltando ao nosso assunto, o que mais me surpreendeu foi uma segunda fotografia, semelhante à anterior mas com uma nova montagem: o Alimentador Colectivo para Alimentos Sólidos:

Obtém-se colocando um suporte sobre o primeiro alimentador, e por cima um recipiente semelhante mas de menores dimensões. A curiosidade tem a ver com o estranho alimentador feito em lata que é colocado no interior do recipiente de cima. É nesta lata modificada que se colocam as referidas farinhas (secas) ou o pólen (também seco) e que acabam por ser muito procuradas pelas abelhas…

Como se constrói o Alimentador Colectivo para Pólen e Farinhas?

1. Começa por usar-se uma lata reciclada, vazia, (quadrada, neste caso) onde se abre uma porta lateral para colocar as farinhas no interior, e obviamente para a entrada e saída das abelhas:

2. Na parte superior da lata (na tampa), são abertos quatro orifícios, um a cada canto, para a saída de ar quente provocado pelo esvoaçar das abelhas no interior. Caso contrário boa parte da farinha em suspensão no ar seria expulsa pela entrada principal perdendo-se, com a entrada e saída intempestiva das abelhas e principalmente pelo bater de asas no interior da lata:

Segundo Carlos Correa, as abelhas entram na lata, batem as asas levantando nuvens de pó (farinha mais fina) recolhendo-a em suspensão no ar, agregando-a depois em pelotas nas corbículas (nas patas) e transportando-a para a colmeia como o pólen “natural” que colectam nas flores. A farinha é assim recolhida em voo, enquanto umas abelhas desmancham o monte de farinha batendo as asas, outras recolhem-na em suspensão no ar.

3. Agora um dos pormenores mais importantes: a (s) farinhas (s) e ou pólen a utilizar, não são meramente despejados no interior da lata - alimentador. Há algum cuidado, ou melhor um truque na sua colocação. As farinhas são compactadas manualmente contra a parede de trás da lata, formando um monte em diagonal entre o fundo e a parede de trás como se pode ver na próxima imagem:

Esta informação já tinha sido visto num dos esquemas anteriores, na imagem 4.
Desta forma, as abelhas recolhem apenas a farinha e o pólen mais fino, uma vez que com o bater de asas e desfazendo o montão, colocam a farinha em suspensão mais facilmente, deixando as partículas maiores no fundo da lata. Periodicamente o apicultor volta a compactar as farinhas diagonalmente e repete-se o processo, até ao consumo total (ou quase) de todo o alimento sólido.

Alguma farinha que saia acidentalmente pela entrada das abelhas (buraco maior, lateralmente na lata) ainda é reaproveitada pois cai dentro da tina mais pequena, aí colocada para o efeito, onde se encontra a lata:

Segundo Carlos Correa, esta modalidade de alimentar as abelhas é usada em duas situações: para uma alimentação normal em caso de carências nutritivas, e para preparar/ “treinar” as abelhas para a recolha/produção de pólen.
Como é produtor de pólen, para preparar as abelhas para esta tarefa, normalmente começa por lhe colocar o alimentador com as farinhas (como se fosse um treino ou uma preparação) e só depois começam a colectar o pólen nas flores.
Usa preferencialmente farinhas de milho, trigo, cevada e mandioca, visto que a farinha de soja e o próprio pólen de refugo são demasiado caros. Há quem use levedura de cerveja na mistura, o que ainda encarece mais.

Sempre que forneço pólen às minhas abelhas, tenho de o misturar com algo mais atractivo como o mel e xarope de açúcar, com todo o trabalho e confusão que já descrevi numa série de posts.
Por isso não me contive e acabei por perguntar ao Carlos porque carga d’ água, as abelhas dele se sentiam tão atraídas pela farinha seca e simples…?
Ele confessou-me que para facilitar o processo e tornar o alimento seco mais atractivo, antes de colocar as farinhas na lata unta-lhe todo o interior com mel ou outro xarope açucarado, o que atrai mais facilmente as abelhas. O facto de colocar a tina mais pequena sobre a do xarope líquido (onde as abelhas já estão habituadas a ir) também ajuda n o processo) mas mesmo assim não estou a ver as minhas abelhas …

Como se pode ver na segunda imagem, este alimentador (para sólidos) pode ser combinado com o alimentador maior para xaropes açucarados, sobrepondo-se-lhe.

Estes alimentadores podem ser usados em qualquer altura do ano, mas fazem-no preferencialmente na entrada do Inverno e da Primavera (quando o pólen ainda é escasso). Uma inspecção cuidadosa ao interior da colmeia (favos) indicará ao apicultor a melhor oportunidade para alimentar.

Curiosidade: nesta região do Brasil existe uma árvore chamada “Barba Timão”, cujo pólen é muito tóxico provocando a mortalidade das abelhas. O Carlos referiu-me terem morrido muitas colónias a um amigo dele durante essa produção de pólen, o que ele conseguiu evitar alimentando-as com as referidas farinhas.

Perguntei ao apicultor porque razão a farinha não era apenas colocada dentro da lata, mas sim prensada na diagonal num formato tão peculiar. Respondeu-me que o truque era esse, só dessa forma as abelhas conseguem fazer “nuvens” de farinha no interior da lata para que as outras a pudessem recolher no ar.
Quando o apicultor regressa ao apiário deve levar mais farinha, voltar a compactar tudo e recolher os grânulos mais grossos (que as abelhas não recolhem) e aproveitam-no para dar às galinhas.

O Carlos Correa ainda disse:

“Você se encantaria em ver as abelhas entrando na lata e saindo todas brancas, voando de frente para a lata se penteando e depositando a farinha nas corbiculas e novamente voltando para aumentar o volume das pelotas nas perninhas.
O vento levando ora para direita hora esquerda as abelhas todas branquinhas é encantador, e sem agressividade , já no xarope é melhor despejar no cocho e sair correndo ...”


Outras modalidades de Alimentadores Artificiais, desta vez individuais:

Na continuidade desta conversa, ainda me apresentou outra modalidade de alimentador para xaropes líquidos. Mas tratam-se de alimentadores individuais (um por colmeia) apesar de se encontrarem no exterior.

O alimentador não é mais que uma caixa de madeira impermeabilizada, com uma tampa deslizante e cuja entrada (acesso das abelhas) encaixa e entra pela própria entrada da colmeia (fixando-se na tábua de voo).

Na próxima imagem, podemos observar o dito alimentador desmontado:

Um dos aspectos que achei mais interessante foi a existência de um flutuador de madeira que se coloca dentro do alimentador, descendo à medida que o nível do xarope também desce.
O flutuador tem quatro pregos espetados por baixo, como se fossem pés de apoio, não o deixando assentar totalmente no fundo. Esse pormenor permite às abelhas recolherem o alimento artificial até ao fim, nomeadamente a as partículas mais densas e pesadas.

Agora, outro procedimento muito curioso com a alimentação artificial das abelhas:
Habitualmente, e após a instalação de um apiário (para a produção de rainhas onde o fluxo de néctar tem de ser contínuo), o Carlos usa um método muito peculiar de ministrar o dito alimento às colónias:
Coloca um depósito de plástico de cinco litros de capacidade, cheio de xarope, dentro de uma melgueira (alça) vazia sobre o ninho ou sobre outra alça.
Esta “dose” dá para cerca de 30 dias, desde que se tenham alguns cuidados, nomeadamente a adição de uma colher de ácido cítrico para cada 20 litros de xarope, que deve ferver até aos 100ºC. Após a fervura há que retardar o arrefecimento da mistura, forrando o recipiente (onde se ferveu o xarope) com papelão ou cartão canelado.
O arrefecimento lento permite a inversão dos açúcares, o que resultará numa alimento melhor aceite pelas abelhas e com maior durabilidade sem se alterar (cerca de 30 dias).

Repare-se no pormenor do acesso das abelhas ao xarope no depósito de cinco litros: uma fenda no dito depósito, onde se encaixa um pequeno “cesto” de rede metálica e onde as abelhas podem aceder sem se afogarem.
Este alimentador/depósito é colocado numa alça vazia (sem quadros) colocada sobre outra alça (melgueira) ou directamente sobre o ninho, com diversas vantagens:
A alça sob o alimentador permite o armazenamento do xarope sem que se “roube” espaço no ninho para a postura da rainha. Por outro lado, a alça vazia serve de abrigo ao excesso de abelhas colectoras em dias de chuva ou calor, não atrapalhando o serviço das amas ou “nodrizas”. Muito engenhoso, não?

3 comentários:

Apisarte disse...

Tenho conhecimento de um colega brasileiro que usa o alimentador “comunitário” para aproveitar tudo o que tenha resíduos de açucar para a produção de cera. Mas não conhecia o mesmo para a produção de pólen e utilizando farinha de milho? As minhas abelhas são mesmo esquisitas!

Alien disse...

Esquisitas as suas abelhas, Apisarte?
Venha conhecer as minhas, nem com "a colherinha pela boca abaixo"... :-)
JPifano

Carlos Roberto disse...

Tenho o alimentador de farinha as abelhas principalmente pela atividade praticada que é a coleta de polen , nos dias de chuvas o polen é lavado e somente 1 dia após o polen estara novamente a disponivel as abelhas para coleta , fazendo perdendo o condicionamento que é a coleta de polen , e tendo as farinhas a disposição elas não perderão o condicionamento e como igualmente no mel onde tendo nectar nas flores elas não coleta xarope , no polen a situação é igual , apos o dia coletando farinha elas retornam a coleta de polen .
Em determinada epóca temos escasseis de polen saudavel o que obriga a coletar polen venenoso e com a farinha a disposição evitamos a mortalidade de abelhas .
Carlos Roberto-Guarulhos -SP
www.correacarlosroberto@yahoo.com